Josefo realmente escreveu isso?
No Livro XX de Antiguidades Judaicas, Flávio Josefo, historiador do primeiro século, fez referência à morte de “Tiago, irmão de Jesus, chamado Cristo”. Muitos eruditos acreditam que essa declaração é autêntica. Mas alguns questionam a autenticidade de outra declaração sobre Jesus nessa mesma obra. Esse trecho, conhecido como Testimonium Flavianum, diz:
“Nesse mesmo tempo, apareceu Jesus, que era um homem sábio, se é que podemos considerá-lo simplesmente um homem, tão admiráveis eram as suas obras. Ele ensinava os que tinham prazer em ser instruídos na verdade e foi seguido não somente por muitos judeus, mas também por muitos gentios. Ele era o Cristo. Os mais ilustres dentre os de nossa nação acusaram-no perante Pilatos, e este ordenou que o crucificassem. Os que o haviam amado durante a sua vida não o abandonaram depois da morte. Ele lhes apareceu ressuscitado e vivo no terceiro dia, como os santos profetas haviam predito, dizendo também que ele faria muitos outros milagres. É dele que os cristãos, os quais vemos ainda hoje, tiraram o seu nome.” — História dos Hebreus, Antiguidades Judaicas, XVIII, 772.
Desde o fim do século 16, uma forte controvérsia tem dividido as pessoas que acreditam que esse texto é autêntico e aquelas que questionam se foi Josefo que o escreveu. Serge Bardet, historiador francês e especialista em literatura clássica, tentou esclarecer detalhes desse debate que estiveram obscuros nos últimos quatro séculos. Ele publicou sua pesquisa num livro chamado Le Testimonium Flavianum—Examen historique considérations historiographiques (O Testimonium Flavianum — um Estudo Histórico com Considerações Históricas).
Josefo não era um autor cristão. Era um historiador judeu; assim, o motivo da controvérsia é praticamente por causa do uso do termo “o Cristo” para Jesus. Com base em suas pesquisas, Bardet afirmou que esse título corresponde “em todos os sentidos ao costume de se usar em grego o artigo [definido] para nomes de pessoas”. Bardet acrescentou que, de um ponto de vista judeo-cristão, “o uso do termo Christos por Josefo além de não ser uma impossibilidade” é uma pista que “os críticos em geral cometeram o erro de desconsiderar”.
Será que o texto foi enfeitado mais tarde por um falsificador imitando o estilo de Josefo? Com base em evidências históricas e textuais, Bardet chegou à conclusão de que uma imitação assim seria praticamente impossível. O falsificador precisaria ter “um talento para imitação quase perfeito em toda a antiguidade”, em outras palavras, só se fosse Josefo plagiando o próprio Josefo.
Então, por que todo esse alvoroço? Ao identificar a raiz do problema, Bardet disse que tudo começou “simplesmente porque dúvidas foram levantadas sobre o Testimonium — algo que não acontece com a maioria dos textos antigos”. Ele acrescentou que as opiniões sobre esse assunto ao longo dos séculos eram baseadas mais em “outras intenções” do que na análise lógica do texto, que oferece todos os motivos para se crer em sua autenticidade.
Ainda não sabemos se a análise de Bardet mudará a opinião dos eruditos sobre o Testimonium Flavianum. Mas ela já convenceu Pierre Geoltrain, um renomado especialista em judaísmo helenístico e cristianismo primitivo. Por muito tempo, ele havia encarado o Testimonium como um acréscimo e até zombava de quem acreditava em sua autenticidade. Mas ele mudou sua opinião por causa da obra de Bardet. Geoltrain recentemente disse que “ninguém deveria a partir de agora ousar chamar esse escrito de Josefo de ‘testemunho improvável’”.
Obviamente, as Testemunhas de Jeová têm motivos ainda mais convincentes para aceitar Jesus como o Cristo: os motivos encontrados na própria Bíblia. — 2 Tim. 3:16.